Naquela noite, cansada e sem muito interesse, resolvi assistir a uma série qualquer. Não dei atenção aos primeiros minutos; os olhos pesados se fecharam antes mesmo que a trama pudesse me envolver. Cochilei nos primeiros capítulos, mas, ao acordar, algo na história me prendeu. Sem saber o motivo, senti-me compelida a continuar.

A narrativa tinha um magnetismo estranho. Era sobre viagens no tempo, encontros e desencontros que levavam as pessoas ao momento exato de viverem suas histórias. Aquilo mexeu comigo de uma forma que eu não esperava. Memórias que eu julgava esquecidas vieram à tona. Lembranças que por anos haviam permanecido adormecidas, quase apagadas, começaram a se agitar dentro de mim.

Quando percebi, o céu já clareava. A madrugada havia passado como um sussurro, e eu estava ali, envolta na trama da série e nas lembranças do passado. Olhei o relógio, e a data no visor me trouxe uma onda de choque. Era 20 de janeiro.

Não pude evitar o arrepio que percorreu minha pele. Essa data, há muitos anos, havia marcado o início de um sonho. Um sonho que parecia tão vivo, tão possível, mas que hoje não passava de uma lembrança distante. Por um longo tempo, tentei evitar que ela me afetasse. Era apenas um dia comum no calendário, repetido anualmente sem propósito. Mas hoje a  noite, tudo parecia diferente.

Ao buscar o nome da série para continuar assistindo depois, algo me atingiu: era como se o próprio tempo houvesse conspirado para me trazer de volta àquele sentimento. A trama falava exatamente sobre isso — o tempo como um guia, um caminho que nos leva ao lugar e às pessoas certas, no momento ideal.

Loucura ou coincidência? Não sei dizer. Só sei que perdi a noite inteira revivendo momentos que julgava enterrados. Era como se, por meio daquela história, eu estivesse alimentando uma esperança secreta, quase ingênua, de que o tempo ainda pudesse nos trazer juntos novamente.

Talvez fosse apenas um delírio causado pela madrugada sem dormir. Ou talvez, de alguma forma, o universo estivesse me lembrando que as grandes histórias nem sempre estão encerradas. E que, no momento certo, mesmo os caminhos mais distantes podem voltar a se cruzar.