Ela não queria ser uma heroína de folhetins
Nem tão pouco a mulher fatal de filmes americanos.
Ela tinha sonhos comuns de menina-mulher, queria ser reconhecida como profissional e ser humano.
Queria ser amada e respeitada como mulher.
Não esperava viver uma grande história de amor, mas, ter um grande amor para viver em sua história.
Em cada relação, descobria o que não deveria fazer ou desejar.
Em cada nova tentativa, se distanciava um pouco de seus sonhos.
Nas intermináveis noites
Em que molhava seu travesseiro
Com seus questionamentos e convicções
A solidão lhe fazia companhia.
O ar lhe faltava tal como uma ligação telefônica quando tenta reconectar.
Sabia que ao clarear do novo dia,
Apresentaria seu melhor sorriso,
sua melhor palavra de conforto demostrando
sua melhor disposição para vencer mais uma jornada.
Suas dores eram tão bem camufladas que nem mesmo o olhar mais crítico detectaria sua intensidade.
Sua mente entrava em ritmo de alerta
para não deixar transparecer o cansaço da sua alma.
Não suportava a ideia de despertar pena,
mas, esperava ansiosa pelo dia que seria Vista de verdade.
Pois, todos ao seu redor a viam sem lhe enxergar.
A tristeza a corroía como um câncer, que se espalha silenciosamente.
Os sinais eram sutis e por isto ignorados.
Os dias começaram a serem vividos em contagem regressiva.
Chegou a um ponto que não sabia mais quem era e tão pouco o quê buscava.
O seu reflexo no espelho lhe parecia completamente estranho.
Sabia que não poderia refazer o caminho percorrido,
nem corrigir os estragos feitos ou reacender o brilho no olhar.
Muitas vezes, sentiu vontade de pedir colo, bater no tatame ou pedir pra descer.
Mas, por orgulho ou falta dele, continuava tentando.
Seu corpo, já cansado e apresentando as marcas do tempo não acompanhavam mais sua cabeça.
Sabia que chegaria o tempo que este desencontro entre corpo e mente teria um final.
E, só então ela voltará a sonhar, se comprometendo a fazer tudo diferente, e assumir uma nova existência.